terça-feira, 16 de maio de 2017

A Confissão



Palavra do autor: 

Réu confesso

O réu confesso é aquele que admitiu ter cometido o crime, que confessou seus atos.

A chamada dosimetria da pena (tempo da punição de cada réu condenado) é feita com base em três pilares, o chamado regime trifásico: fixa-se a pena base considerando a culpabilidade, antecedentes criminais, motivos, consequências do crime e outros.

Depois, são analisadas as situações agravantes e atenuantes, aumentando ou diminuindo a pena.
Em um terceiro momento, são discutidas as causas de aumento e de diminuição. 
Verifica-se nessa fase se houve concurso formal, concurso material ou crime continuado.

* Concurso material: quando o mesmo crime é praticado várias vezes, soma-se a pena para cada vez que o crime foi cometido.


* Concurso formal: quando com uma só ação se pratica mais de um crime, então é aplicada a pena mais grave para aquele crime, podendo ser ampliada de um sexto até a metade.


* Crime continuado: quando o segundo ou demais crimes são continuação do primeiro, então é aplicada a pena mais grave ampliada de um sexto até dois terços.


Sobre crime afiançado: Somente se o réu for primário de bons antecedentes (nunca tenha cometido qualquer delito) Mas em caso de Homicídio: NÃO existe Fiança. 
Pode haver diminuição da pena em até 1/3.

 A Confissão

***


22:00 horas! Na delegacia do “Beco” o telefone toca insistente; O atendente:


- Alô: 15º DP do “Beco” Qual a ocorrência?


Era alguém pedindo ajuda policial urgente para um assalto em andamento na joalheria Triângulo de Prata o Detetive aspirante Tallis foi incumbido para essa diligencia. O incidente ocorreu na Rua Osório 315 – no “Beco” Centro de Nápoles.

Vizinhos de um prédio em frente à loja perceberam a ação dos criminosos e acionaram a polícia.
Que detiveram dois homens em flagrante logo após furtarem à joalheira.
Os assaltantes tinham passagem pela polícia. Eles foram presos em flagrante por furto e encaminhados para a delegacia.
A ação dos criminosos foi flagrada pelas câmeras de segurança.
   Os assaltantes se aproximaram de uma das vitrines, quebraram o vidro com um pé de cabra, e invadiram a loja. Eles estavam fugindo com centenas de joias em duas mochilas.
Para evitar serem identificados pelas imagens do circuito de monitoramento, os suspeitos usavam máscara com a imagem de super-herói.

Enquanto as viaturas rumavam para delegacia quase atropelaram um rapaz que andava a ermo pela rua. Por pouco não aconteceu um acidente.

Depois de registrada a ocorrência, já passando da meia noite Tallis estava indo para casa tomar banho e descansar um pouco.
Nenhum policial podia se dar ao luxo de ter um dia inteiro de folga devido a calamidade que reinava na cidade de Nápoles com o Justiceiro mascarado cada dia mais enchendo as delegacias com meliantes.

Um pouco antes de o telefone da Delegacia tocar. O Justiceiro mascarado havia deixado na porta da delegacia “embrulhado para presente” com as alças das mochilas e lenços, três assaltantes armados que renderam o funcionário da noite de um posto de combustíveis na Esquina da Via expressa com a Rua Conde Dominni. Os meliantes chegaram ao posto em alta velocidade com um carro prata. Eles estavam armados e tinham o rosto coberto com lenços.

Com destreza saíram todos juntos do carro e anunciaram o assalto, renderam o funcionário, amarraram, pegaram o dinheiro que havia no caixa, cerca de R$200 e começaram a arrombar o cofre do estabelecimento.

Enquanto trabalhavam no cofre o vigia conseguiu soltar as mãos e acionou a polícia com um alarme escondido. Os suspeitos resolveram fugir levando o cofre antes que a Policia chegasse, pois não conseguiriam abrir à tempo. Mas foram abordados pelo Justiceiro Mascarado! Dominados! Amarrados com as alças de suas mochilas e seus lenços. O Justiceiro os deixou na porta da Delegacia com o montante do roubo e o Funcionário do Posto de Combustível: Pedro Ivo de 57 anos com cara de vitorioso.
Na volta para casa ele encontrou no caminho o mesmo rapaz que quase os fez perder a direção e colidirem as viaturas policiais.  Ele continuava andando pela rua seguindo reto, já havia andado uns três quilômetros da ultima vez que fora visto.

Tallis passou por ele deu uma olhada e continuou seu caminho, precisava descansar ou não poderia ficar de guarda de tanto cansaço.
Porém ao olhar pelo retrovisor do veículo aquele rapaz que andava cabisbaixo Tallis voltou parou ao lado dele e perguntou:

- Voce quer uma carona?

O rapaz deu um pulo como se tivesse acordado de um pesadelo e disse:

- De novo não! Por favor!

Tallis retrucou aborrecido:

- De novo o que rapaz? É a primeira vez que te ofereço carona, voce esta andando a horas passei com meus homens e voce quase nos faz te atropelar.

-Se...Seus homens?

Perguntou o rapaz num fio de voz, mas com espanto.

-Sim! Meus homens da 15º DP. Sou Policial.

Respondeu Tallis estranhando o gesto esquivo do rapaz. Surpresa maior foi quando ele disse:

- Ah sim! Voce é Policial! Desculpa! "O Senhor". Aceito a carona sim Obrigado.

Tallis o mandou entrar, o rapaz pegou a barra da camisa enxugou as lágrimas abriu a porta do carro entrou, fechou a porta com cuidado e sentou ao lado dele em silêncio. Tallis passou a marcha olhou para ele e disse:

- Posso te levar até a 25 moro nos arredores está bom?

O rapaz balançou a cabeça confirmando Tallis acelerou. Ele estava curioso, mas era muito discreto mesmo sendo um policial não estava trabalhando.
Vez ou outra olhava o seu carona que só quebrava o silêncio com soluços.
Tallis falou quebrando aquele silêncio na madrugada fria:

- Tem uma garrafa com água no porta-luvas pode se servir.

- Obrigado!

Disse o rapaz apanhando a garrafa e dando boas goladas na água. Limpou a boca da garrafa com a mão, fechou, colocou no lugar e disse olhando para frente:

- Não haveria nenhuma testemunha. Não haveria nenhum risco. Estaria tudo certo e tranquilo!

A culpa foi dele.


 Capitulo 2:



-Culpa de quem rapaz? Do que voce está falando? Lembre-se que sou um policial.

Disse Tallis sentindo que teria que trabalhar se ele continuasse.

E ele continuou! Falava como se falasse com seu espelho:


- Eu o conheci por acaso, quando ele encomendou serviços de Motoboy e eu fui incumbido de atender. Pelo maldito destino eu era o próximo da fila. 
O cara me cantou. Fez de tudo para que eu o acompanhasse na refeição que ele havia pedido me dizendo todo cheio de gentilezas:


- Fique à vontade, eu moro sozinho. Venha cear comigo tenho um vinho ótimo. Um rapaz como você seria o que pedi a Deus.

Eu recuei dizendo com educação e esquiva.

- Me desculpa senhor! Preciso voltar ao trabalho.

Ele continuou sem se importar que estivesse me deixando sem graça e irritado!

- Eu pago pelo tempo que eu ocupar de voce.

- Obrigado Senhor! Só quero o dinheiro da entrega. Respondi ríspido

- Está bem, espere um pouco que vou buscar.

Falando isso o cara encostou a porta me deixando esperando do lado de fora pelo meu pagamento, voltou logo depois. Me pagou e me deu uma gorjeta maior do que eu poderia faturar na semana inteira. Agradeci constrangido e ele continuou

- Quando quiser me procure. Posso te ajudar muito. Um  rapaz bonito como voce não devia trabalhar  tanto assim. Toma meu cartão! Me liga! Vou esperar.
..........
Pensando bem agora, a culpa foi do maldito destino. As coisas acontecem como ele quer e a gente fica perdido.
...........

   Quando eu era meninote um pouco mais ou menos que dez anos, roubei um boneco do homem aranha de um amiguinho, um vizinho nosso que sempre me chamava pra brincar, nós dois eramos filhos únicos e ele tinha muitos brinquedos que me fascinavam, coisas que meu pai nunca conseguiria comprar com seu emprego de ASG.
Meu pai ficou sabendo, fez eu entregar, pedir perdão e me deu uma surra. Foi a única surra que eu levei do meu pai. Mas foi tão traumática que eu nunca mais consegui colocar as mãos no que não me pertencia. Nunca mais me apoderei das coisas dos outros.

Meu pai morreu e eu fui crescendo, estudei com sacrifício, arrumava pequenos trabalhos para me sustentar, sempre ouvindo dos vizinhos “esse menino é honesto! Mesmo sendo tão sozinho”.
.......

Quando Fiz vinte anos comprei uma moto a prestações e me empreguei em uma organização de Motoboys.  Estava tudo dando certo.   Eu pagava minhas contas com salário e me alimentava com as gorjetas. Eu como pouco (nisso chegou na Rua 25, mas Tallis continuou dando voltas para ouvir o rapaz) E nesse justo dia, em que eu saia da casa do cara com muito ódio por ele haver me cantado... Ao entrar numa curva. Um caminhão a toda velocidade veio pra cima de mim. Tive que desviar bruscamente para não ser atropelado. Mas estava saindo dos meus pensamentos odiosos e não vi o poste. A moto ficou despedaçada. O motorista do caminhoneiro fugiu. Eu não me machuquei, graças a Deus, mas o motorista poderia ter-me ajudado, foi ele o culpado! Eu perdi todo o meu pequeno capital naquele acidente.

Porque não tinha mais minha moto para trabalhar e estava devendo várias prestações da moto ainda. Eu não tinha segurado e nem como comprar outra. Sentei na calçada e chorei.

Sem poder trabalhar, vagava pela cidade. Não encontrava nenhuma oferta de emprego.
Certo dia estava tomando um café no bar da esquina quando o tal cara apareceu ao meu lado. Cumprimentou-me com um sorriso felino e disse:

- A conta é minha!

Eu não discuti. Qualquer ajuda era bem vinda naquela altura. Desde que não me fizesse nenhuma proposta indecente como a de antes. Ele pagou a conta do meu cafezinho e ainda me ofereceu pão com queijo e um copo de café reforçado, aquilo era um banquete! Quando saiu disse convencido:

- Apareça lá em casa! Estarei esperando!

Na hora eu nem me importei com tal oferta, como dizia meu pai: "Entrou num ouvido e saiu no outro".
 Os dias passavam sem nenhuma oferta de emprego o que eu fazia nos bicos juntava para o aluguel, conta de luz e telefone; Principalmente o telefone que eu não podia ficar sem, pois esperava ser chamado para algum trabalho, tinha deixado muitos currículos na praça.
Mas não sobrava nada para comer,estava vivendo de cafezinho.
Num desses dias... Me lembrei da oferta do cara... Pensei em aceitar... Seria uma vez só... Mas aquele pensamento me revoltava. Relutei muito. Mas o aperto venceu. Não tinha um centavo nem para meu cafezinho. Caminhei devagar pra casa dele, como se fosse parar um tablado onde estaria um carrasco me esperando para minha forca. Cheguei em frente a porta e quase desisti, mas acabei apertando a campainha.



Capitulo 3


    Ele surgiu de robe, todo perfumado. Com aquele olhar nojento que parecia um canibal diante da presa e me falou sem se importar com o que visivelmente se passava comigo.

-  Óh! Voce veio! Eu sabia que viria! Estou me sentindo uma virgem diante de seu primeiro homem! Você é tão bonito! Tão charmoso!

Eu não disse nada. Nenhuma palavra brotava do meu ser recolhido em mim mesmo, era preferível nem pensar. Ter um AVC fulminante talvez fosse melhor.

Não vou te dizer o que aconteceu lá. Não gosto de lembrar.
Saí dali sem chão rebaixado ao menor nível humano, mas com bastante dinheiro no bolso.
 Ele disse satisfeito por ter vencido:

- Pode voltar outras vezes! Não fique assim, a primeira vez é difícil mesmo! Depois você acaba gostando. Sem contar que sempre que precisar de um dinheiro estarei aqui para ajudar.

Eu rosnei “Muito Obrigado”! Mas com a certeza de que Jamais voltaria!
..............
Mas as dívidas não acabaram o emprego não pintou e Eu... Acabei voltando.
.............
Quando foi me pagar... O idiota fez questão de que eu visse os maços de dólares americanos que ele guardava numa gaveta do closet.

Quando voltei para casa aquela noite, não conseguia fechar os olhos. Via aqueles dólares dançando na minha frente. E se eu os pegasse? Faria ele sentir tanto ódio como eu sentia.

Seria a minha indulgência perante meus princípios. Poderia ir para fora do Brasil. Eu possuía muitos amigos que fizeram isso e se davam muito bem trabalhando em restaurantes, enviando dinheiro para família, comprando imóveis aqui no Brasil.

E eu com toda aquele dinheiro poderia ir legalmente. Pisaria nos Estados Unidos sem problemas de visto e estadia. Poderia trabalhar, aperfeiçoar meu inglês, me casar e estaria longe do carinha e de tudo que passei com ele.
Fiz o plano.
Aquele nojento merecia por ter aproveitado de uma situação.
......
Dois dias depois vigiei a casa nas sombras aonde tinha certeza que não pudesse ser notado e esperei que ele saísse de casa. E ele saiu.

Pulei o muro pelos fundos e cheguei até a casa furtivamente, arrombei a porta dos fundos com uma ferramenta que levei escondido. Estava de luvas, mas não toquei em nada daquela casa, meu objetivo era somente os dólares! Então fui rapidamente para o closet. Tive que arrombar também a porta do closet. E como um prêmio por tanto trabalho, medo, desespero, estava ali a gaveta com os dólares diante de mim. Eu sabia que tinham muitos dólares! Não sei como ele tinha coragem de guarda-los ali sem receio de ser assaltado.
.....

Mas aquela lembrança que me fazia sentir especial martelava na minha cabeça:

 - “Esse menino é honesto! Mesmo sendo sozinho”.

 E... Eu não consegui nem abrir a gaveta!
Fiquei ali sem mover um músculo olhando a gaveta do meu destino.
No pensamento tinha:

- "Vou abrir pegar tudo e ir embora"!

 Mas minhas pernas não me obedeciam, eu não saia do lugar. Paralisado como uma árvore. Não sei quanto tempo fiquei ali.

Como se saísse de um sonho ou de pesadelo ouvi a voz do cara que Gritou alguma coisa me tirando do transe...
.....
Não consigo te dizer exatamente o que aconteceu.... Foi muito rápido. acho.... O que me lembro é que eu estava segurando a ferramenta e me lembro nitidamente do sangue que jorrava da cabeça dele chegando aos meus pés. Nem sei como voltei para a pensão. Não lembro como sai dali nem como voltei para casa
........
Me lembro de estar diante da TV e as noticia corriam por toda a imprensa:

“Conhecido Empresário foi brutalmente assassinado em sua residência na Alameda 55: Nada foi roubado da casa! O que fez com que a Polícia concluísse que foi um crime passional, Nem mesmo uma joia: confirmou a esposa da vítima que estava viajando a negócios, disse ela que, nem mesmo a gaveta onde o marido mantinha 20 mil dólares foi tocada, estava intacta no closet arrombado.”

Eu desliguei a televisão e sai andando sem rumo. Queria que tudo desaparecesse, pensei em me entregar a polícia, mas eu seria preso e tudo isso iria me abalar para o resto da minha vida.

Eu não roubei os dólares, cometi um crime e não esqueci nada que me aconteceu.

Mesmo que eu tivesse conseguido roubar os dólares e fugir sem matar.... Não teria paz.

Pelo roubo, pela memória do meu pai, e por ter cedido ao impulso de ter um dinheiro vendendo minha vida.

......

Final


Tallis olhava penalizado para o rapaz que ao acabar de confessar seu crime se calou e encolheu-se no banco do carona olhando para frente sempre. Aliás; em nenhum momento ele olhou para Tallis.
Tallis pegou na “Tapa Sol Para-brisa” Um par de algemas, pegou sua arma na cintura com cuidado para não alertar ao rapaz. E perguntou:

Qual é o seu nome rapaz?

Ele respondeu sem olhar para Tallis:

- Fabrizzio Valle Senhor!

- Bem Fabrizzio voce sabe que preciso te deter e levar para delegacia não é?

Sim Senhor! Eu sei! Foi bom ter encontrado o senhor.

Falando isso o rapaz estendeu os braços em direção de Tallis que levou a mão na arma por instinto. Mas não precisou usar, o rapaz estava se entregando.

Tallis disse os direitos dele e o algemou. O rapaz se encolheu e esperou, ele notou que Tallis havia feito o retorno há uns dez minutos e estavam voltando ao ”Beco”.

Tallis desceu na Delegacia e os dois foram dar o depoimento ao escrivão.

A dor do rapaz era tão visível que os Policiais se emocionaram. Mas mantiveram-se firme. Afinal; Fabrizzio era um réu confesso e poderia estar apenas fingindo para se beneficiar perante os advogados com o respaldo do corpo de Policia do “Beco”. para a indulgência por ser réu Primário Confesso e sem antecedentes criminais

Mas um dia Tallis não descansou e a gritaria na Delegacia piorou com a chegada demais um preso.,.
........... 

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